Posdoutoramento: Nenhuma verdade é de papel. Autobiografia e autoficção em José Saramago, Mário Cláudio e Teixeira de Pascoaes.
DOUTORANDO | José Vieira |
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TÍTULO |
Posdoutoramento: Nenhuma verdade é de papel. Autobiografía e autoficção em José Saramago, Mário Cláudio e Teixeira de Pascoaes
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TITOR |
Burghard Baltruch (posdoutoramento realizado no contexto da CJS)
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RESUMO |
O seguinte projeto de pós-doutoramento tem como objetivo analisar quatro obras ficcionais de três autores distintos – As Pequenas Memórias, de José Saramago, Tiago Veiga. Uma Biografia e Embora eu Seja um Velho Errante, de Mário Cláudio, e Livro de Memórias, de Teixeira de Pascoaes – na tentativa de perceber de que forma os géneros autobiografia e autoficção são utilizados e (re)perspetivados. Ainda que o termo autobiografia possa remeter para textos dos séculos XVIII e XIX, o nosso estudo focar-se-á na evolução que esse género sofreu ao longo do século XX, no geral, e, em particular com as reflexões de Philippe Lejeune, nomeadamente com o surgimento dos Modernismos e consequente fragmentação do discurso e respetiva unidade do sujeito, que vem desaguar no universo post-modernista. Paralelamente à reflexão em torno da autobiografia, estudaremos, também, o conceito de autoficção, desde o seu aparecimento, em 1977, pela mão de Serge Doubrovsky, até aos nossos dias, com o intuito de perceber quais são as suas características, os seus limites e o seu alcance. Como forma de complementar a análise literária dos textos e dos géneros em apreço, recorreremos, ainda, a obras sobre o estudo do cérebro, da consciência e da criação da memória, de modo a entendermos como é que a narrativa, autobiográfica e/ou autoficcional, é uma construção mental e, ao mesmo tempo, uma invenção. Cientes de que os objetivos podem vir a sofrer alterações e cortes ou acrescentos, é possível adiantar algumas pistas em jeito de perguntas que servirão de guias: – Como definir autobiografia e autoficção? – Qual a diferença entre a autobiografia e a autoficção? – De que forma é que o cérebro cria e preenche, em forma de narrativa, os espaços em branco da nossa memória? – Em que género literário se inserem as obras que vamos analisar? – Haverá possibilidade de hibridismo entre os dois géneros? – Qual o papel da autobiografia e da autoficção na literatura contemporânea? Para podermos responder a estas questões, recorreremos a bibliografia de cariz literário, mas também de âmbito filosófico, sociológico e das neurociências, na tentativa de apresentarmos uma possibilidade de estudo abrangente e multidisciplinar. Assim, autores como António Damásio, Philippe Lejeune, Georges Gusdorf, David Herman, Byung-Chul Han, Carlos Reis, Vincent Colonna, entre tantos outros, serão referidos sempre que necessário, quer para robustecer a nossa reflexão, quer também para evidenciar as ideias propostas. Se o estudo da história servia como modelo de registo de um tempo passado, através dos seus acontecimentos, das suas figuras e das suas ações e ditos, nos nossos dias parece que a literatura e o universo ficcional, em particular a autobiografia e a autoficção, vieram ocupar esse espaço e esse campo da narrativa. Não cabendo mais à história o relato de uma vida, real ou imaginada, surge, portanto, a literatura como meio outro de perspetivar, mas também de eternizar o tempo e as suas personagens, que, mais do que nunca, vivem entre o domínio do real e da ficção. Por outro lado, a saturação da imagem num mundo cada vez mais habitado e invadido pelas redes sociais e pelos discursos autocentrados, parece revelar que a autobiografia e a autoficção desconstroem o grau zero da vida social, ao mesmo tempo que se apresentam com um potencial de humanização através da memória e da identidade. |
DATA DE INÍCIO | 15 de fevereiro de 2021 |